Fatores que afetam a biodisponibilidade de nutrientes (Parte 6)
- Por ONutricional
- 3 de ago. de 2016
- 2 min de leitura

Por Alexandre R. Lobo
Interação entre nutrientes: cálcio e vitamina D
Sabemos que, na vida, nada funciona de maneira isolada. Da mesma forma ocorre com os nutrientes em nosso corpo. No entanto, devido à complexidade destas interações, começaremos a tratá-las de modo “simplificado”. Ou seja, as interações entre os nutrientes serão discutidas “dois a dois”: aqui, discutiremos a interação entre o cálcio e a vitamina D.
Ambos são micronutrientes que, particularmente, possuem um papel importante sobre a fisiologia de tecidos mineralizados. De fato, da parte inorgânica dos ossos (em torno de 98%), o cálcio contribui em cerca de 40% – como constituinte dos cristais de hidroxiapatita (juntamente com o fósforo) – e a vitamina D é fundamental para manutenção da homeostase de cálcio nos ossos. Para tanto, a absorção intestinal (fundamentalmente a transcelular) e a deposição óssea do cálcio são moduladas pela forma hormonal da vitamina D, a qual, por sua vez, é formada nos rins após conversão da 25-hidroxi-vitamina D, pela enzima 1α-hidroxilase, em 1,25 diidroxi-vitamina D (ou calcitriol). De forma retroalimentativa, concentrações sanguíneas reduzidas de cálcio (bem como de fósforo) aumentam a atividade da 1α-hidroxilase nos rins, com o objetivo de aumentar a síntese do calcitriol.
As ações hormonais da vitamina D dependem de suas interações com o seu receptor celular (VDR). O complexo formado (vitamina D e seu receptor) transloca para o núcleo celular e influencia a expressão de genes relacionados com a homeostase do cálcio, como os que codificam para a calbindina no intestino (calbindina 9kDa) e nos rins (calbindina 28kDa) – responsável pelo transporte celular do cálcio –, e a osteocalcina – proteína cuja forma carboxilada está envolvida no processo de mineralização óssea – nos osteoblastos.
Apenas em 1937, Ragnar Nicolaysen (1902 – 1986) descreveu um “fator endógeno que informava os intestinos das necessidades ósseas de cálcio”. Segundo o pesquisador, em experimento onde roedores foram alimentados com uma dieta restrita em cálcio, o osso seria um sinalizador para que a absorção adicional do cálcio dietético fosse necessária. O “fator endógeno” de Nicolaysen foi definido como a vitamina D, em estudos posteriores sobre a descoberta do metabolismo funcional da vitamina.
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Sobre a interação entre o cálcio e a vitamina D:
Nicolaysen R. Studies upon the mode of action of vitamin D. IV. The absorption of calcium chloride, xylose and sodium sulfate from isolated loops of the small intestine and of calcium chloride from the abdominal cavity in the rat. Biochem J. v.31, p.323–328, 1937.
De Luca HF. History of the discovery of vitamin D and its active metabolites. BoneKEy Reports v. 3, 2014. doi:10.1038/bonekey.2013.213
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