Prioridades culturais
- Joralima
- 25 de mai. de 2020
- 2 min de leitura

Por Jorge de Lima
Como é de amplo conhecimento, o atual governo federal é uma eficiente máquina de produzir manchetes. Infelizmente, a maioria das manchetes não é positiva. Uma produção boa para os jornais, pois, no mundo inteiro é assim: jornais vivem de vender manchetes e não de vender felicidade – vender felicidade é atribuição da publicidade de margarinas e cervejas.
Eis que, em meio a tantas manchetes mirabolantes, passaram rápido demais as notícias sobre a gestão da ex-secretária especial de cultura, uma atriz de renome nacional.
Enquanto graduado em Letras e professor de ensino fundamental, compreensivelmente meu foco seriam os acertos (quais?) e os desacertos (tantos!) do atual sinistro da deseducação (não vou mencionar seu nome para não lhe dar minha pequena contribuição de holofote). Porém, fazer um pequeno comentário sobre o que restou do Ministério da Cultura não me parece uma usurpação descabida...
Ficou claro, pelo menos para mim, que a renomada atriz não teve tempo, na sua rápida passagem pelos escombros da pasta da Cultura, de implementar uma fundamental medida na área de atuação do profissional das artes circenses. Refiro-me à Proposta de Emenda Constitucional sobre o Pum do Palhaço – a PEC do PUM.
Se votada com a devida urgência que lhe era devida, teria dado tempo de a atriz apresentar ao menos esse importante resultado como fruto da sua fulminante gestão, que até deixou saudades, se comparada ao equívoco que a precedeu – aquela reencarnação tupiniquim do ministro nazista da propaganda (pelos motivos “holofotianos” já comentados acima, não citarei nem o nome do nazista original nem o nome de sua cópia barata mimeografada em papel de pão).
Imagino que a PEC do PUM dignificaria o trabalho do palhaço, posto que, como todos sabem, trata-se de um artista que deve manter-se de bom humor mesmo quando estiver com um pum preso – o que é indubitavelmente uma tarefa desconcertante... A partir de sua aprovação, a PEC do PUM permitiria ao palhaço soltar um estrondoso flato sem precisar, para tanto, fazer uma graça, improvisar um espirro, dar uma pirueta, bater na própria face. Mais importante: esse direito, uma vez positivado na nossa Carta Magna, se estenderia a todos aqueles que estivessem devidamente caracterizados de palhaço – os chamados palhaços autônomos, palhaços “free-lancer”, palhaços com MEI, palhaços de fim de semana e até os palhaços desempregados!
Aliás, se estivesse aprovada, a PEC do PUM contemplaria, por exemplo, o brasileiro contribuinte que, vez por outra (na verdade, quase sempre), percebe-se na condição de palhaço involuntário – uma modalidade não engraçada de palhaço que financia as palhaçadas alheias. É o caso, por exemplo, dos queridos brasilienses que, em meio à crise atual, leram a notícia de que os legisladores distritais aprovaram um plano de saúde vitalício para os ex-deputados (e seus familiares!). Os cidadãos do Distrito Federal já poderiam soltar um retumbante pum em público se a Secretaria Especial da Cultura tivesse conseguido emplacar ao menos esta tão necessária PEC do PUM.
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Fonte da imagem: https://www.ufmg.br/naondadavida/?p=3525
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