Fatores que afetam a biodisponibilidade de nutrientes (Parte 8)
- Por ONutricional
- 21 de ago. de 2016
- 2 min de leitura

Por Alexandre R. Lobo
Interação entre nutrientes: fibras e lipídeos
A manutenção da homeostase intestinal depende do balanço e da dinâmica da interação entre a camada de muco, as junções intercelulares oclusivas, a microbiota intestinal e a resposta imunológica inata e adaptativa do hospedeiro frente aos estímulos presentes no lúmen intestinal. Neste aspecto, alterações na composição bacteriana e na integridade da barreira da mucosa – como consequência de inadequações nutricionais – são fatores que podem contribuir para a etiologia do processo inflamatório sistêmico induzido pela obesidade.
Nos últimos anos, tem sido amplamente discutido o potencial de determinados componentes prebióticos da fração fibra alimentar em modular a composição e a atividade metabólica da microbiota intestinal, favorecendo a produção de bactérias bifidogênicas probióticas, em detrimento de espécies consideradas nocivas para o hospedeiro. Fundamentalmente, o processo fermentativo destes componentes favorece a produção de ácidos graxos de cadeia curta que, por um lado, são importantes na manutenção da integridade da mucosa intestinal e para a função imunológica e, por outro lado, afetam o metabolismo de carboidratos, de lipídios e de minerais.
A definição de prebióticos – modificada ao longo dos últimos anos desde a sua primeira menção em 1995 – foi recentemente atualizada com a inclusão de aspectos relacionados à diversidade do ecossistema microbiano e à caracterização das respostas biológicas provenientes de ou um único tipo de componente (prebiótico), de outros componentes da dieta (não necessariamente prebióticos), ou ainda da interação de vários destes componentes.
Diferentes estudos vêm apontando, de maneira sistemática, o papel benéfico dos prebióticos em modelos experimentais de obesidade. Nestes estudos, roedores recebem dietas hiperlipídicas por longos períodos de tempo. No decorrer do tempo, os animais desenvolvem alterações intestinais – como por exemplo, modificações na composição microbiana e na permeabilidade intestinal – dentre as quais parecem ser responsáveis, pelo menos em parte, pelo conjunto de alterações sistêmicas provocadas pelo consumo crônico de gorduras em excesso, como por exemplo a resistência à insulina e o aumento na resposta inflamatória (este último, chamado de endotoxemia metabólica). Sendo assim, a sugestão de que a utilização de componentes dietéticos moduladores da microbiota intestinal possa influenciar o metabolismo energético, a sensibilidade à insulina e o processo inflamatório na obesidade, abre perspectivas dietoterápicas em circunstâncias relacionadas com o excesso de peso.
A caracterização das matrizes alimentares com o objetivo de identificar componentes prebióticos passa a ser uma estratégia nutricional importante que pode servir como ferramenta para o controle da obesidade. É importante salientar, contudo, a importância da qualidade da dieta neste contexto, com o objetivo de se produzir um ambiente nutricional adequado para a efetividade da ação destes componentes.
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