Obesidade em gestantes: influência da adequação da vitamina D
- Por ONutricional
- 15 de ago. de 2016
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Por Alexandre R. Lobo
A gestação é um período de preparação psicológica para a maternidade, no qual são vividas mudanças de ordem biológica, somática, psicológica e social. Neste período, especialmente, é necessário que se entenda a relação direta entre os fatores ambientais condicionantes dos hábitos e comportamentos da mãe e o desenvolvimento intrauterino do feto.
A nutrição é um fator ambiental de particular importância nesta fase, de modo que comportamentos alimentares não saudáveis das mães refletirão em riscos para a sua saúde e, como consequência, para o desenvolvimento e para a saúde do seu filho. Sabe-se que padrões alimentares inadequados – tanto do ponto de vista quantitativo quanto qualitativo – associados ao sedentarismo, predispõem ao desenvolvimento da obesidade.
Reconhecida como problema de saúde pública de escala global nos dias atuais, a obesidade é caracterizada pelo excesso de gordura corporal em decorrência de um balanço energético positivo. Em gestantes, grupo particularmente vulnerável, está associada com uma série de complicações clínicas, como diabetes gestacional, pré-eclâmpsia, infecções urinárias de do trato genital inferior, abortos espontâneos, dentre outras. Além disso, a taxa de mortalidade materna é maior em mulheres obesas do que em mulheres não obesas.
Vitamina D e o seu impacto na gestação
A vitamina D é um micronutriente obtido pela síntese endógena (cutânea, após exposição à luz solar) ou pela alimentação. Junto com o paratormônio, influencia a fisiologia de tecidos mineralizados devido à suas ações na homeostase do cálcio e do fósforo. Estas ações dependem da interação da forma hormonal da vitamina – calcitriol, cuja produção renal é mediada pela 1-α-hidroxilase – com o seu receptor celular em tecidos-alvo (como o intestino e os ossos).
Durante a gestação, várias alterações bioquímicas e fisiológicas ocorrem para que seja mantida a saúde do feto. Durante os primeiros meses da gestação, ocorre aumento nas concentrações sanguíneas da proteína carreadora da vitamina D e do calcitriol. Este último se deve ao aumento da atividade da 1-α-hidroxilase, na placenta e na decídua (camada funcional do endométrio) – além dos rins. Deste modo, a presença da 1-α-hidroxilase, tanto na placenta quanto na decídua, sugere que estes dois compartimentos possam contribuir com a concentração sanguínea do hormônio durante a gestação. Estas alterações parecem atuar, em conjunto, na regulação do transporte de cálcio pela placenta e na aquisição adicional do mineral para a mineralização óssea do feto em desenvolvimento.
O calcitriol exerce outras funções na gestante, como por exemplo, na regulação da função imunológica e no controle da inflamação na unidade feto-placentária. Também influencia na decidualização do endométrio, na síntese do estradiol e da progesterona, bem como na expressão da gonadotrofina coriônica e do lactogênio placentário. Sendo assim, não é de surpreender que a inadequação no status em vitamina D em gestantes pode resultar em importantes complicações, conforme descrito em diversos estudos clínicos e epidemiológicos.
Obesidade e status em vitamina D: consequências sobre a gestação
O status em vitamina D é medido pelas concentrações sanguíneas de calcidiol – o a forma precursora do calcitriol – utilizado como biomarcador no diagnóstico da deficiência da vitamina. Para gestantes, as DRI (Ingestão Dietética de Referência) preconizam uma EAR (Necessidade Média Estimada) de 10 mg/dia de vitamina D – para atender as necessidades de 50% de uma população sadia – suficientes para alcançar uma concentração sanguínea de 16 ng/ml de calcidiol; e uma RDA (Ingestão Dietética Recomendada) de 15 mg/dia – para atender as necessidades de cerca de 98% de uma população sadia – suficientes para atingir uma concentração sanguínea de ≥20 ng/ml de calcidiol. Estes valores sugerem uma grande probabilidade de consumo inadequado da vitamina com valores sanguíneos abaixo de 16 ng/ml, e uma grande probabilidade de consumo adequado com valores ≥20 ng/ml.
Durante a gestação, a hipovitaminose D está associada com complicações como a pré-eclâmpsia, o diabetes gestacional, dentre outras, que afetarão tanto a saúde da gestante quanto a do bebê. Da mesma forma, concentrações sanguíneas reduzidas das duas formas da vitamina D (calcidiol e calcitriol) são frequentemente observadas em obesos. É de se esperar, portanto, que gestantes obesas apresentem um risco ainda maior de desenvolver complicações obstétricas. Tanto a pré-eclâmpsia – cujo diagnóstico é fundamentado pela presença combinada de hipertensão e proteinúria – quanto o diabetes gestacional – promovido pela intolerância à glicose, em graus variados, no início da gestação – são complicações que são agravadas pelo aumento da adiposidade materna.
As recomendações para o ganho de peso durante a gestação, revisadas em 2009 pela Organização Mundial de Saúde, estabelecem que, no momento da concepção, mulheres com sobrepeso devem adquirir entre 7 a 11,5 kg e, mulheres obesas, entre 5 a 9 kg. Dentro dessa perspectiva, as necessidades nutricionais das gestantes devem ser ajustadas pela adequação da ingestão de alimentos que atendam suas demandas nutricionais aumentadas. Uma equação, desenvolvida para calcular o ganho de peso recomendado durante cada trimestre da gestação, está disponível no site http://www.pbrc.edu/research-and-faculty/calcu lators/gestational-weight-gain/. O uso de suplementos (dentre os quais, a vitamina D) é uma estratégia a ser considerada, no caso da presença de deficiências nutricionais, para diminuição no risco de complicações obstétricas.
Referências bibliográficas
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Texto originalmente publicado em Alimente Saúde.
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