top of page

Josué de Castro e o pensamento social brasileiro (Parte 4): Fome/subalimentação na agenda das políti

  • Por ONutricional
  • 27 de jan. de 2018
  • 3 min de leitura

Por Mercês de Fátima dos Santos Silva e Everardo Duarte Nunes

react-text: 2761 Reproduzido da /react-text Revista Ciência e Saúde Coletiva react-text: 2764 (DOI: 10.1590/1413-812320172211.35002016)

Essa fase é marcada pelo reordenamento do conhecimento anteriormente produzido, numa perspectiva de síntese e de planejamentos para ações políticas. O emaranhado de debates em torno da denúncia de fome no Brasil, a partir de livros, artigos científicos e textos de jornais, levaram Josué de Castro a intensas reflexões e ao diálogo mais profícuo com a dimensão sociocultural da problemática da fome. Mais que isso, semeou a ideia de que a fome era um conceito político, colocando a ciência e a política como polos indissociáveis.

Os estudos de Castro nos anos 1930, sobretudo os que utilizaram os inquéritos alimentares e abordaram a relação trabalho e alimentação, influenciaram a elaboração do Decreto Lei nº 2.162/1940, que instituiu o primeiro salário mínimo nacional. Este fato marcou a participação da intervenção estatal de forma mais expressiva, no que se refere à política social de alimentação, modelando, por vezes, de maneira contraditória, um conjunto de conceitos e noções que superaram a questão alimentar como problema fisiológico, individual, direcionando a problemática mais coletiva e social.

Em decorrência desses fatores, surgiu a necessidade de se repensar a ciência da Nutrição como uma ciência que teria um papel científico-político. Foi a partir das ideias de Castro, sob forte influência de Pedro Escudero, nutricionista argentino que insere a perspectiva da ciência da Nutrição como ciência do social na América Latina, que foram traçadas as nuances das diretrizes de uma política pública e a trajetória da alimentação humana em sua totalidade, da produção ao abastecimento, passando pelas dimensões culturais da alimentação e finalizando no consumo e seus impactos na saúde e nutrição das populações. Essa influência se dera nos anos de 1930, com o empenho de Castro em construir as bases da educação alimentar racional no Brasil, a partir da confluência entre o pensamento médico-nutrólogo com o pensamento social brasileiro. Tal confluência esteve presente em escritores e ensaístas brasileiros, que também influenciaram Castro. Entretanto, o pioneirismo concedido a Castro deve-se à sua trajetória junto à burocracia estatal, a órgãos acadêmico-científicos e a organismos internacionais em que atuou e que auxiliou da criação, dentre eles, Serviço Central de Alimentação, em 1939; vinculado ao Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários (IAPI), depois convertido no Serviço de Alimentação da Previdência Social (SAPS), em 1941, que também foi presidido por Castro até 1941. Além da Sociedade Brasileira de Alimentação (SBA), em 1940; Serviço Técnico de Alimentação Nacional (STAN), em 1943; Instituto Técnico de Alimentação (ITA), em 1944; Arquivo Brasileiro de Nutrição, 1944, Comissão Nacional de Alimentação (CNA), em 1945.

Ao final dos anos de 1940, pode-se dizer que a Nutrição estava institucionalizada como campo de saber. Seu esforço foi, principalmente, o de captar a especificidade do debate das ações e políticas públicas em torno de um projeto de segurança alimentar e por este meio projetar um projeto de desenvolvimento singular brasileiro para conduzir o país sem fome.

Continua...

Leia também: /react-text

Comments


Posts recentes
bottom of page