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A quem interessa o complexo de vira-lata do brasileiro
- ONutricional
- 5 de ago. de 2018
- 4 min de leitura
O livro recém lançado do sociólogo Jessé Souza, 'Subcidadania Brasileira', trata de "entender o país além do jeitinho brasileiro", como diz o seu subtítulo, e analisa o autoconhecimento distorcido do povo e o seu complexo de inferioridade
Por Léa Maria Aarão Reis, para a Carta Maior:
"O que efetivamente separa o americano do brasileiro é que o primeiro legaliza a corrupção de modo profissional, deixando para os amadores brasileiros expedientes como esconder dinheiro ilegal na cueca".

Um destes registros mordazes do sociólogo Jessé Souza, ex-presidente do IPEA (Instituto de Pesquisas Aplicadas) e professor titular de Sociologia da Universidade Federal do ABC, está na alentada introdução de 44 páginas que precede a atual edição de seu livro Subcidadania Brasileira. ''Outra distinção é que o americano não atenta contra a própria economia, como fez a Lava Jato", ele escreve. A "(...) Lava Jato, essa filha da sociologia do vira-lata, destrói as empresas e a riqueza nacional".
Para o autor, está criada a "ideologia do vira-lata". E, em paralelo, a ''divinização'' do mundo dos chamados países centrais. Neste livro, ele analisa a relação entre elites nacionais e seu povo e entre centro e periferia do capitalismo. Sobre a legenda do brasileiro cordial e afetuoso, de autoria de Sergio Buarque, ele comenta: "As falcatruas globais do mercado financeiro americano, que ficaram públicas na crise de 2008, construídas para enganar os próprios clientes, lavar dinheiro em escala industrial e drenar o excedente mundial em seu favor, são certamente invenção de algum brasileiro cordial que passou por lá e inoculou o vírus da desonestidade nessas almas tão puras". São reflexões mais que pertinentes do escritor, autor deste livro originalmente produzido entre 2001 e 2003 e publicado algum tempo depois com o título "A construção social da subcidadania" pela editora da Universidade Federal de Minas Gerais. Atualmente, o trabalho revisto, ampliado e atualizado está sendo apresentado pela editora Leya. Vem se juntar à trilogia de outros livros de grande sucesso do autor - "A tolice da inteligência brasileira" (2015), "A radiografia do golpe" e "A elite do atraso", ambos de 2016 –, deste sociólogo pertencente a uma geração que vem requalificando a análise da sociedade do país, libertando-a de alguns mitos criados no passado por colegas seus, lendários, de direita e de esquerda, e denunciando, com sólidos fundamentos, nossas mazelas e as nossas piores dificuldades e deficiências de ontem e de hoje. "Além da introdução feita pelo autor", comenta o editor Rodrigo de Almeida, "nós revimos – autor e editor – diversas passagens, atualizando, modificando e tornando o livro mais acessível ao leitor comum. Mas mantivemos o grande mérito dele: a consistência teórica da sua formulação". Rodrigo chama a atenção para o fato de o livro representar "o primeiro esforço sistemático de pensar a sociedade brasileira e seus conflitos fundamentais de modo inovador. Um pensamento que, antes restrito aos círculos acadêmicos, tornou-se mais conhecido pelo grande público nas obras recentes de Jessé. Sobretudo, A elite do atraso".

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