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Minha história com Lula

  • Joralima
  • 20 de abr. de 2018
  • 4 min de leitura

Por Jorge Alves de Lima

Por ter morado em São Paulo, aconteceu, algumas vezes, de eu estar no mesmo ambiente que um ou outro político de maior projeção. Claro que isso nunca serviu para que eu saísse do meu completo anonimato. Tampouco foram ocasiões nas quais eu tivesse tido um contato pessoal maior do que uma foto ou um aperto de mão. Apenas aconteceram e isso, de certa forma, acabou desmistificando, para mim, a figura deste ou daquele político.

No final das contas, esses encontros fortuitos serviram, se muito, para um gracejo com os amigos em volta de uma pizza.

Porém, houve uma vez que a coisa foi um pouco diferente...

Eu não tenho uma relação de amor e ódio pelo ex-presidente Lula. Ele, como tantos outros políticos, encontrou o seu eleitorado. Eu não faço parte desse eleitorado, pois decido meu voto de maneira mais factual: em cada eleição, eu pondero a respeito dos discursos e vejo qual discurso se enquadra mais no que eu penso para aquele momento. Ultimamente, por isso, tenho votado em branco.

Lembro-me, contudo, de quando o Lula foi à Universidade de São Paulo. Ele fora mais de uma vez, certamente. Eu mesmo me lembro de ter tido notícias dele por lá umas duas ou três vezes – se não estou enganado. Em uma dessas vezes, contudo, a vinda do Lula coincidiu com o meu intervalo e com o meu caminho. Eu trabalhava de dia no prédio de História e estudava à noite no conjunto didático das Letras. Então, havia uma faixa de horário na qual eu era alguém esperando a próxima parte da vida começar. Logo, aproveitei essa brecha para ouvir o que ele tinha vindo nos dizer.

A fala do Lula foi no prédio de História. Não nas salas de aula, nos auditórios ou nas salas de reunião. Foi ali no pátio mesmo (que todos dali chamavam de vão livre coberto). Um dos tablados de sala de aula foi trazido para baixo e foi providenciada uma cadeira para que ele se sentasse. Talvez duas ou três centenas de pessoas sentaram-se no chão à frente do tablado e umas tantas ficaram pelas rampas e amuradas internas do prédio.

E foi nessa simplicidade de arranjos que, para aquela eleição, o candidato Lula me arrebatou. Não me lembro com clareza sobre quais assuntos ele falou. Sei que não foi uma fala técnica, tampouco professoral. O assunto transcorreu com a simplicidade que é característica do ex-presidente e com a certeza própria de alguém que está compartilhando a sua verdade. E isso, sem dúvida alguma, tem o enorme poder de contagiar quem ouve.

Não era verão, o chão estava frio – e ficava mais frio à medida que a tarde cedia vez à noite. Mas ninguém se levantou durante a fala do Lula, que tinha total domínio da plateia. E não era uma simples plateia: sentados no chão estavam alguns dos meus colegas universitários, alguns funcionários da universidade e alguns dos professores que me davam aula, muitos dos quais doutores e pós-doutores, com títulos conquistados aqui e no estrangeiro. Estavam sentados sobre seus títulos ouvindo um torneiro mecânico falar sobre sua vida, essencialmente.

"...sentados no chão estavam alguns dos meus colegas universitários, alguns funcionários da universidade e alguns dos professores que me davam aula, muitos dos quais doutores e pós-doutores, com títulos conquistados aqui e no estrangeiro. Estavam sentados sobre seus títulos ouvindo um torneiro mecânico falar sobre sua vida, essencialmente"

A imagem é importante para a minha memória porque estávamos a poucos metros do prédio onde um outro candidato naquela eleição trabalhara como professor: o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que fora docente no Departamento de Ciências Sociais.

Se FHC viesse à universidade (talvez tenha vindo e eu apenas não fiquei sabendo), certamente seria muito bem recebido. Certamente, seria acomodado em um dos auditórios da universidade e sua brilhante apresentação seria acompanhada num confortável espaço com iluminação e ar condicionado. E ele falaria muito bem, pois, diga-se de passagem, o ex-presidente é um exímio orador.

Fernando Henrique, por sinal, triunfou naquele pleito. Lula não se elegeu daquela vez e nem mesmo na vez seguinte (como não se elegera, aliás, na vez anterior, quando foi oponente de Fernando Collor de Mello). Quis o destino, contudo, que FHC lhe passasse a faixa de presidente ao término de seus dois mandatos, para que Lula também cumprisse dois mandatos à frente do mais alto cargo público do país.

Penso que milhares, talvez milhões, de pessoas pelo país afora tenham suas histórias para contar sobre o presidente Lula. Boas ou más lembranças. Que importa? Penso que isso dê a verdadeira dimensão para o mito que aos poucos ele foi se tornando. Gostemos ou não gostemos da pessoa Luiz Inácio Lula da Silva, sua história hoje se confunde com a história de milhões de brasileiros e, por isso, seu nome, a despeito do que lhe imputem, será repetido milhões de vezes por sabe-se lá quanto tempo na nossa história. Nessa história do Brasil e de todos nós – pois ele faz parte dela.

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