A vida que (nem sempre) imita a arte
- Joralima
- 2 de mar. de 2018
- 3 min de leitura

Por Jorge Alves de Lima
Minha geração assistiu “Ao Mestre, com Carinho” na TV e “Sociedade dos Poetas Mortos” no cinema. Certamente, são filmes que foram vistos por milhões de pessoas ao redor do mundo. Claro que aqueles que seguiram carreira universitária e chegaram aos cursos de licenciatura devem ter visto outros tantos, pois histórias sobre a vida escolar abundam. E não sem motivo: com as diferenças de praxe, a escola é uma instituição presente em toda parte. Na vida, todos são (ou foram ou serão) alunos.

Nessas obras cinematográficas, Sidney Pontier é o professor negro Mark Thackeray, no roteiro baseado no romance autobiográfico “To Sir, With Love”, escrito por Eustace Edward Ricardo Braithwaite, enquanto, em “Dead Poets Society”, um roteiro original para cinema, Robin Williams é o professor John Keating, chamado a ensinar inglês em uma espécie de curso preparatório norte-americano com vistas à universidade.
O livro que deu origem ao filme inglês, que contou com o

fantástico Sidney Pontier, foi escrito em 1959, mas a história adaptada às telas se passa no final da década de 1960. Já [a história] do filme norte-americano, com o inigualável Robin Williams, se passa no final dos anos 1950 (precisamente, em 1959). Portanto, ambos, enquanto narrativas, são contemporâneos – embora tenham tido produções separadas por mais de duas décadas.
Muitos podem ter sido inspirados por esses – e outros – filmes quando decidiram se tornar professores ou quando se viram na condição de professores (às vezes acontece: eu mesmo não planejei muito e, de repente, lá estava com um pedaço de giz nas mãos). O mais importante é chamar atenção para o poder motivador dessas (e outras) histórias, pois faz o docente acreditar na possibilidade de transformação do ser humano – e o melhor professor é aquele que acredita nas mudanças propiciadas pela educação.
Eu não me lembrei dos filmes durante a minha curta primeira experiência docente com jovens – talvez por não ter dado tempo, talvez por querer evitar comparações (e frustrações) com o meu resultado. Mas, agora, olhando para trás, percebo que poderia ter sido um pouco mais dos personagens Mark Thackeray e John Keating que tanto me emocionaram. Poderia ter acreditado mais na possibilidade de mudança através do exemplo, através da paciência, através da escuta, através do desafio.
Porque não acreditei tanto nessas possibilidades, me surpreendi quando a classe mais bagunceira melhorou de comportamento após os alunos terem sido convencidos, pelos meus colegas professores e pela direção da escola, de que eu era um excelente professor (eu não era: mas todos acreditaram, então, eu passei a acreditar também).
Porque eu não acreditei, me surpreendi com o desempenho poético dos alunos. Eu, que cheguei a pensar em não dar as aulas de limeriques, achando que o assunto era muito complexo para as turmas, fui surpreendido pela realidade: eles escreveram e disputaram entre si para ver quem escrevia mais limeriques e quem os escrevia melhor (e o mesmo aconteceu com as aulas sobre fábulas).
Pode parecer que os professores não serão necessários, em um futuro próximo, pois vivemos um tempo em que os avanços da tecnologia vendem um mundo de autodidatismo – por conta da quantidade irrefreável de informação ao alcance dos dedos: um simples toque. Porém, é falaciosa a (possível) indistinção entre informação e educação e conhecimento e sabedoria. Temos muita informação, certamente; temos sólidas bases de conhecimento, sem dúvida; temos diversos formatos de educação, mas temos pouca sabedoria – que é o uso disso tudo.
Daí que recomendo esses dois filmes – tanto para os professores que somos ou que fomos ou que poderemos ser, quanto para os alunos que sempre seremos.
Sociedade dos Poetas Mortos (Dead Poets Society). 128 minutos.
Drama. 1989. Estados Unidos. Com Robin Williams, Robert Sean Leonard, Ethan Hawke, Josh Charles, entre outros. Escrito por Tom Schulman. Direção de Peter Weir.
Ao Mestre, com Carinho (To Sir, with Love). 105 minutos.
Drama. 1967. Reino Unido. Com Sidney Poitier, Christian Roberts, Judy Geeson, Suzy Kendall, a cantora Lulu, entre outros. Baseado no romance autobiográfico de E. R. Braithwaite (1959). Direção de James Clavell.
Comments