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José Pacheco: "Educadores devem aderir a novas práticas para atender aos jovens"

  • Por ONutricional
  • 27 de set. de 2017
  • 4 min de leitura

Reproduzido de Globo.com. Por Paula Ferreira

A educação não pode ficar restrita ao espaço da escola, ao contrário, deve ser uma atribuição de toda a cidade. Mas o que as sociedades estão fazendo para corrigir os erros históricos desse processo? Os questionamentos estiveram presentes no debate "Cidades educadoras", durante o evento internacional Educação 360. Ao longo da discussão, educadores criticaram a segregação cada vez mais presente nas cidades contemporâneas e apontaram a distância entre a escola que existe atualmente e aquela que se espera para promover um ensino mais inclusivo.

"As cidades são arquipélagos e agora com as novas tecnologias intensificou a solidão. A solidão se manifesta no shopping, no aeroporto, no bunker que são os condomínios. No bunker que é a escola, que cria alambrados para se defender da comunidade", analisou o educador português José Pacheco. O especialista criticou a percepção atual, promovida por esse isolamento, que separa a escola da sociedade. De acordo com ele, o modelo escolar em curso atualmente no Brasil, embora haja iniciativas positivas no país, precisa ser totalmente modificado para atender aos anseios dos jovens e impedir que mais estudantes tenham aprendizagem inadequada.

Para ele, os educadores precisam se comunicar e aderir a novas práticas, ao contrário de insistir em um "modelo obsoleto". "Por que os alunos não veem na escola uma oportunidade de transformação de vida? Porque o conceito que eles têm é o conceito que normalmente se tem, de que é o lugar onde tem que ficar 4 horas por dia, ouvir alguém falar de algo que não te interessa, num contexto social que é completamente contrário ao de sua origem. Até hoje se convencionou a separar escola da comunidade. A cidade é escola e a escola é a cidade", disse. "Continuo a manter o tom da indignação. O Brasil precisa fazer o que já devia ter feito há muito tempo e só não faz porque os educadores não se comunicam. O Brasil tem que compreender essas múltiplas violências, como jovens que saem da escola e vão alimentar a indústria do tráfico e da prostituição, resultam do modelo educacional obsoleto, criminoso e excludente que vem da revolução industrial."

Ex-secretário de educação da prefeitura de São Paulo, Fernando Almeida discordou de Pacheco. Para ele, não se pode jogar fora todas as práticas já construídas. Almeida falou ainda que é contraproducente desacreditar a escola brasileira e todos seus professores. O especialista destacou ainda a necessidade de construir uma política pública que esteja alinhada com as características da sociedade brasileira: "Não posso ter ações isoladas. Não adianta fazer pequenas experiências e contar exemplos de pessoas fantásticas. Não há hoje por parte do projeto social brasileiro, econômico e cultural, algo que possa encantar a escola. Quem nos deve um projeto para construir junto com a escola é a sociedade toda. Indignar-se contra escola é sinal que não participei dela. Agora que o Brasil colocou 98% das crianças dentro da escola dizer que a escola não presta é uma covardia com as pessoas que estão lá dentro."

Durante a apresentação, o coordenador de gestão pedagógica do estado do Ceará, Rogers Mendes, apresentou o projeto "Juventude em tempo integral", que pretende ampliar o número de escolas de tempo integral no estado. A proposta prevê que até 2030 todas as escolas de ensino médio da rede funcionem nesse modelo. Haverá um formato de ensino integral para as escolas regulares e outro para as instituições que oferecem ensino profissional. Na apresentação, Mendes defendeu que para replicar uma política em larga escala, muitas vezes, é preciso distanciar um pouco de modelos pilotos que, embora excelentes, são muito difíceis de serem universalizados. "Eu não consigo montar uma nova estrutura pedagógica fora da escola no modelo atual. Eu preciso dialogar com o que está hoje fundamentado. Não conseguimos parar de ofertar o serviço para mudar a cabeça das pessoas. Todas as experiências brasileiras que começaram com vitrine não foram replicadas, seja porque gastou-se demais, ou outros motivos. O tempo da gestão pública no Brasil com todos problemas graves que temos não nos permite fazer pilotos. As intervenções têm que chegar a todas as pessoas."

Uma iniciativa que a cada ano alcança mais gente foi apresentada pelo Sesc de São Paulo durante o debate. O projeto Curumim, que começou há 30 anos, tem como premissa promover um desenvolvimento integral da criança por meio de brincadeiras e atividades que colocam o jovem em contato com a cidade. Presente em 30 unidades do Sesc em São Paulo, o Curumim tem atualmente 3.692 crianças inscritas. Para Maria Augusta Maia, da gerência de estudos e programas sociais do Sesc, além de promover valores como cooperação e protagonismo, o projeto faz com que as crianças aprendam a tirar proveito das relações sociais que encontram na cidade. "As relações que se dão na cidade são educativas tanto para o bem ou para o mal. Mas o encontro educa a cidade com todas suas questões, podemos potencializar o encontro para que eduquem e tragam crescimento. Precisamos retomar a cidade para nós. Muitas vezes nos trancamos e não temos mais esse lugar de encontro e nos percebermos como sujeitos educadores", disse.

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