Política dentro das salas de aula
- Por ONutricional
- 13 de jun. de 2017
- 3 min de leitura

Jogo da Política permite simular a atuação de um juiz, prefeito ou deputado; a metodologia apoia o debate político em sala de aula
Por Beatriz Drague Ramos, via Carta Educação
Qual a importância de jovens vivenciarem as funções de um juíz, prefeito ou deputado? Com o crescente movimento de politização juvenil, reforçado pelas manifestações estudantis de 2013, 2015 e 2016, fica cada vez mais evidente a aspiração dos jovens participarem ativamente da política do país.

A pesquisa “Sonho Brasileiro da Política”, divulgada em 2014, e realizada com 1.128 jovens de 18 a 32 anos em todo o Brasil, já apontava que 48% dos jovens sentiam-se responsáveis pelas mudanças na sociedade; e que 65% deles gostaria de aprender política na escola.

Os poderes nas mãos dos jovens Com o objetivo de materializar o desejo dos estudantes, as organizações sociais Énois e LabHacker uniram-se e desenvolveram o Jogo da Política, uma ferramenta didática para se ensinar política em ambientes escolares e em demais esferas.
Lançado no dia 2 de junho na Câmara Municipal dos Vereadores, em São Paulo, o jogo simula o funcionamento das três esferas de poder, Executivo, Legislativo e Judiciário, e permite aos participantes viverem na pele a complexidade dos cargos públicos. É possível, por exemplo, compreender o funcionamento do orçamento de uma cidade, como ele é dividido e como deveria ser.
Na modalidade legislativo, “o integrante entende qual é o papel do presidente da Câmara, do relator e dos demais cargos desse poder. Paralelamente, os partícipes criam as suas próprias leis fundamentais para o funcionamento da sociedade. Já o jogo do poder judiciário, traz o exercício de trabalho com a justiça, com o crime e com a interpretação da subjetividade da justiça.
A escolha das palavras nos noticiários também são tratadas na atividade. Com isso, o participante compreende as diferenças sutis em manchetes, que podem levar a pré-julgamentos. “No atual momento de polarização é preciso problematizar a ideia da verdade absoluta”, compreende Pedro Markun, um dos desenvolvedores do projeto.
Experiências de incidência política
Em 2016, o jogo foi apresentado de maneira prática em alguns territórios do interior de São Paulo, Minas Gerais e Brasília. Um ônibus hacker ficou encarregado de oferecer oficinas e permitir a vivência com a metodologia.
Na cidade de Gavião Peixoto, interior de São Paulo, os estudantes que jogaram a versão do legislativo sugeriram dois projetos de lei para o município, um para trazer educação midiática nas escolas e outro para ter um maior cuidado com os animais de rua.
A experiência impulsionou os jovens a seguirem ativos na vida política e protocolar um projeto de lei na Câmara dos Vereadores. “Por Whatsapp, os jovens conseguiram recolher as 180 assinaturas necessárias para protocolar o projeto; depois, o escreveram e foram até a Câmara. São adolescentes de 15 e 16 anos pautando a discussão de vereadores”, reconhece a co-fundadora da Énois, Amanda Rahra.
Durante as ocupações das escolas estaduais de São Paulo, Bruno Souza, que trabalha na Biblioteca Comunitária Caminhos da Leitura, aplicou o Jogo da Política na Escola Estadual Amélia Kerr Nogueira. Para o jovem, a experiência representou uma quebra de paradigma. “A política sempre foi uma coisa muito distante pra gente. Ao mesmo tempo, a gente sabe da importância de se alfabetizar politicamente”, reflete.
O professor de filosofia e sociologia, Valentino Ruy, que aplicou o jogo em sala de aula entende que a experiência contribui para “ o “despertar de um sono profundo, que muitas vezes a população tem em relação à política”. De acordo com o educador, o jogo é mais um ferramenta de problematização necessária aos professores.
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