top of page

Cidades Educadoras: "Como produzir um Mapa da Desigualdade em sua cidade?"

  • Por ONutricional
  • 25 de mar. de 2017
  • 4 min de leitura

A desigualdade é um problema que vai muito além da distribuição de renda”. É em torno desta afirmação que o Guia orientador para a construção de Mapas da Desigualdade nos municípios brasileiros pretende orientar e incentivar cidadãos e instituições públicas a reunirem indicadores e a elaborarem seus próprios levantamentos sobre a desigualdade territorial existente em suas cidades.

Segundo o guia, a desigualdade está presente no acesso a serviços básicos de saúde e de educação, na oferta de equipamentos esportivos e culturais, no tempo médio de vida da população e em áreas como transporte, segurança e habitação. “No Brasil, lidamos diariamente com o abismo que separa regiões extremamente pobres de lugares que apresentam índices de países desenvolvidos. É como se Japão e Serra Leoa convivessem lado a lado, inseridos no mesmo território”, afirma o documento.

Portanto, a desigualdade também acontece em escalas menores, dentro de uma mesma cidade. [Por exemplo] o Mapa da Desigualdade de São Paulo, produzido há cinco anos pela Rede Nossa São Paulo, revela que 31 distritos – de um total de 96 – não possuem leito hospitalar. Em 34, não há parques; em 36, não há bibliotecas. Quem mora em Cidade Tiradentes, na zona leste, tem um tempo médio de vida de 53,8 anos; no Alto de Pinheiros, na zona oeste, esse índice é de 79,6 anos.

Essas informações reforçam a importância do enfrentamento à desigualdade na esfera pública e a necessidade de políticas que priorizem os investimentos nos locais que mais precisam de recursos”, defende o Guia. O Mapa da Desigualdade aponta as diferenças entre as melhores e piores regiões de um território, de modo que seja possível mapear as mais carentes de serviços e infraestrutura.

A Plataforma Cidades Educadoras conversou com Clara Meyer, coordenadora de Indicadores do Programa Cidades Sustentáveis, sobre o desenvolvimento do Guia, e produziu um passo a passo metodológico para as cidades interessadas em produzir seu Mapa da Desigualdade.

A desigualdade está presente no tempo médio de vida da população.

1# Levantamento de indicadores

Estabelecer um conjunto de indicadores que contemple áreas como Educação, Saúde, Trabalho, Meio Ambiente, Cultura, Violência, entre outras, é o primeiro passo para a elaboração do Mapa da Desigualdade.

É recomendável que algumas áreas reúnam mais de um indicador, de modo que se obtenha um diagnóstico preciso da cidade e de suas subdivisões administrativas. Em Saúde, por exemplo, o levantamento de dados pode envolver informações como baixo peso ao nascer, gravidez na adolescência, leitos hospitalares, mortalidade infantil e assim por diante”, afirma o Guia.

Segundo Clara Meyer, esta é a etapa mais delicada na elaboração do Mapa da Desigualdade. “É a fase mais complicada do processo: em muitos casos, os indicadores de uma cidade englobam a sua totalidade, e não fazem o registro local. Também na maioria das vezes as informações vêm do poder público municipal, mas o Mapa pode e deve ser feito por movimentos da sociedade civil.”

Alguns dados de Saúde, por exemplo, podem ser obtidos no DATASUS, e os de Educação, no INEP. Dados do Censo Demográfico devem ser evitados para a composição do Mapa, pois são atualizados uma vez a cada década. Para se obter comparações precisas, o ideal é utilizar indicadores que sejam atualizados anualmente.

2# Seleção dos dados por região da cidade

É importante observar a divisão territorial da cidade e fazer o levantamento de indicadores a partir da menor unidade administrativa regulamentada (como bairros, zonas e distritos)”, aponta o documento. Compare, então, os dados de cada uma dessas áreas e faça uma escala progressiva a partir das regiões que apresentam os melhores indicadores.

Em uma cidade como São Paulo, principalmente por seu tamanho e suas diferenças entre regiões, é fundamental que os dados sejam apresentados por distrito. Nas cidades menores, que não possuem muita diferença entre regiões, faz sentido comparar as áreas rural e urbana”, observa Clara.

3# Configuração do Sistema de Indicadores

Em parceria com a Eokoe, a Rede Nossa São Paulo desenvolveu um sistema para gerenciamento de indicadores, com o objetivo de auxiliar as prefeituras signatárias do Programa Cidades Sustentáveis. Os movimentos que fazem parte da Rede Social Brasileira por Cidades Justas, Democráticas e Sustentáveis também utilizam o sistema para fazer o monitoramento dos indicadores das cidades. O software é livre e pode ser utilizado gratuitamente pelos usuários.

O Guia apresenta um passo a passo de como instalar esse software, que cria um observatório de desigualdade. Trata-se de um sistema completo de indicadores por região das cidades”, afirma Clara.

4# Cálculo do Desigualtômetro

O fator de desigualdade é calculado a partir da relação entre o melhor e o pior indicador em cada unidade administrativa. Para tanto, divida o indicador da melhor região pelo indicador da pior região.

5# Listagem dos indicadores zerados

É de fundamental importância destacar os indicadores zerados, considerando os zeros ‘positivos’ (como zero casos de homicídio) e ‘negativos’ (como zero centros culturais). Com isso, é possível relacionar os dados no contexto da série histórica e avaliar se os indicadores zerados de fato melhoraram ou pioraram.

6# Avaliação das regiões

Para a avaliação das regiões com os piores indicadores, é necessário criar uma planilha com todos os números e fazer um recorte das áreas que aparecem entre as trinta piores para todos os indicadores. Depois disso, faça a contagem de quantas vezes cada uma das regiões aparece nessa lista. Indicadores com valor zero de caráter negativo (como “Leitos Hospitalares”) também devem ser contabilizados.

É muito importante enfatizar que diversas regiões em uma cidade não têm acesso a nenhum equipamento. Na maioria dos casos, os piores indicadores estão concentrados nas periferias de um centro urbano. A formulação de políticas públicas deve priorizar esses espaços”, defende Clara.

Desigualtômetro revela a existência de enormes abismos em uma só cidade.

7# Apresentação do resultado

Ao final do levantamento, escolha os principais indicadores e destaque os dados básicos, como nome, descrição, fórmula de cálculo, fontes e informações adicionais. A apresentação deve incluir os indicadores de valor zero, o indicador da melhor e o da pior região, e o fator de desigualdade entre as regiões. “Apresente também a evolução do fator de desigualdade, a avaliação das regiões com os piores indicadores e a avaliação dos indicadores iguais a zero. Além disso, disponibilize um arquivo com todas as informações, ou seja, com os dados de todas as regiões”, finaliza o Guia.

Comments


Posts recentes
bottom of page